A varíola humana pode ser transmitida aos seres humanos tanto por animais infectados quanto através do contato direto com feridas infecciosas, crostas ou fluidos corporais e roupas de cama/roupas compartilhadas.
A Organização Mundial da Saúde reconhece a transmissão materno-fetal, a partir da passagem placentária, originada da doença congênita e/ou através de contágio no contato íntimo, durante e após o parto.
A transmissão da varíola dos macacos requer interação próxima prolongada com um indivíduo sintomático que apresente a erupção cutânea e pode transmitir o vírus até que as lesões cicatrizem e as crostas caíam. A extensão em que a infecção assintomática por varíola dos macacos pode ocorrer é desconhecida. O período de incubação é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias.
Há escassez de dados sobre a infecção por varíola durante a gestação, consistindo em um único relato de caso e uma pequena série de casos. Um estudo observacional de uma coorte na República Democrática do Congo com 222 indivíduos sintomáticos internados no hospital com varíola do macaco, entre 2007 e 2011, incluiu quatro mulheres grávidas, sendo que uma mulher com doença leve deu à luz um recém-nascido sem características clínicas de infecção por varíola dos macacos. No entanto, as três mulheres com infecção materna moderada a grave tiveram resultados obstétricos adversos: duas tiveram abortos espontâneos no primeiro trimestre com 6 semanas de gestação e uma teve uma perda no segundo trimestre com 18 semanas de gestação. O feto natimorto apresentou erupção vesicular, hepatomegalia e hidropisia com alta carga viral detectada em tecido fetal, cordão umbilical e placenta – confirmando a transmissão vertical da varíola do macaco.
Uma gestante com 24 semanas de gestação infectada, teve parto prematuro com 30 semanas e o recém-nascido teve uma erupção cutânea generalizada no nascimento semelhante à varíola dos macacos e morreu de desnutrição 6 semanas depois.
Em 23 de julho de 2022, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), EUA, confirmaram seu primeiro caso de varíola dos macacos em uma mulher grávida. A mulher e seu filho eram supostamente saudáveis. No entanto, o relatório não mencionava a realização ou não de exames confirmatórios no recém-nascido.
A infecção por varíola do macaco no terceiro trimestre ou durante as últimas quatro semanas de gravidez não deve indicar a antecipação do parto, a menos que seja orientada por fatores obstétricos ou urgência clínica em mulheres criticamente doentes.
O surto de varíola dos macacos de 2022 foi declarado como emergência de saúde pública de interesse internacional em 23 de julho de 2022 pela OMS. No Brasil, já foram confirmados cerca de 868 casos até a data de 26/07/2022.
Referências Bibliográficas:
Dashraath P, Nielsen-Saines K, Rimoin A, Mattar C, Panchaud A, Baud D, MONKEYPOX AND PREGNANCY: FORECASTING THE RISKS, American Journal of Obstetrics and Gynecology (2022), DOI: https://doi.org/10.1016/j.ajog.2022.08.017.
Coordenação-Geral de Saúde Perinatal e Aleitamento Materno. Nota Técnica Nº 46/2022-CGPAM/DSMI/SAPS/MS. 2022. Disponível em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/biblioteca/nota-tecnica-no-46-2022-cgpam-dsmi-saps-ms/.
MONKEYPOX INFECTION, VACCINATION AND TREATMENT IN PREGNANCY. UKTIS monograph for health care professionals. Disponível em: https://www.medicinesinpregnancy.org/bumps/monographs/MONKEYPOX-INFECTION-VACCINATION-AND-TREATMENT-IN-PREGNANCY/.
Guidance for Tecovirimat Use Under Expanded Access Investigational New Drug Protocol during 2022 U.S. Monkeypox Cases. Centers for Disease Control and Prevention, National Center for Emerging and Zoonotic Infectious Diseases (NCEZID), Division of High-Consequence Pathogens and Pathology (DHCPP). Disponível em: <https://www.cdc.gov/poxvirus/monkeypox/clinicians/Tecovirimat.html>.
A. Khalil,A. Samara,P. O’Brien,E. Morris,T. Draycott,C. Lees,S. Ladhani. Monkeypox and pregnancy: what do obstetricians need to know?. Ultrasound in Obstetrics and Gynecology. DOI: https://doi.org/10.1002/uog.24968
Placide K Mbala, John W Huggins, Therese Riu-Rovira, Steve M Ahuka, Prime Mulembakani, Anne W Rimoin, James W Martin, Jean-Jacques T Muyembe, Maternal and Fetal Outcomes Among Pregnant Women With Human Monkeypox Infection in the Democratic Republic of Congo, The Journal of Infectious Diseases, Volume 216, Issue 7, 1 October 2017, Pages 824–828, https://doi.org/10.1093/infdis/jix260
Jamieson DJ, Jernigan DB, Ellis JE, Treadwell TA. Emerging infections and pregnancy: West Nile virus, monkeypox, severe acute respiratory syndrome, and bioterrorism. Clin Perinatol. 2005;32(3):765-776. doi:10.1016/j.clp.2005.04.008
Sookaromdee P, Wiwanitkit V. Neonate, infected mother and monkeypox: the present concern. Journal of Perinatal Medicine. 2022. https://doi.org/10.1515/jpm-2022-0256
Mathumalar Loganathan Fahrni, Priyanka, Om Prakash Choudhary. Possibility of vertical transmission of the human monkeypox virus, International Journal of Surgery, Volume 105, 2022. https://doi.org/10.1016/j.ijsu.2022.106832
Kisalu, N. K., & Mokili, J. L. (2017). Toward Understanding the Outcomes of Monkeypox Infection in Human Pregnancy. The Journal of infectious diseases, 216(7), 795–797. https://doi.org/10.1093/infdis/jix342
Lahariya, C., Thakur, A., & Dudeja, N. (2022). Monkeypox Disease Outbreak (2022): Epidemiology, Challenges, and the Way Forward. Indian pediatrics, 59(8), 636–642. https://doi.org/10.1007/s13312-022-2578-2
Webb E, Rigby I, Michelen M, et alAvailability, scope and quality of monkeypox clinical management guidelines globally: a systematic reviewBMJ Global Health 2022;7:e009838. Disponível em: https://gh.bmj.com/content/7/8/e009838.
Khalil, A., Samara, A., O’Brien, P., Morris, E., Draycott, T., Lees, C., & Ladhani, S. (2022). Monkeypox vaccines in pregnancy: lessons must be learned from COVID-19. The Lancet. Global health, 10(9), e1230–e1231. DOI: https://doi.org/10.1016/S2214-109X(22)00284-4
Pradip Dashraath; Karin Nielsen-Saines; Citra Mattar; Didier Musso; Paul Tambyah; David Baud. (2022). Guidelines for pregnant individuals with monkeypox virus exposure. The Lancet. Global health, VOLUME 400, P21-22. DOI:https://doi.org/10.1016/S0140-6736(22)01063-7